quinta-feira, 30 de julho de 2015

CEDO OU TARDE...


          ONTEM, PASSEI O DIA COM SAUDADES DE ALGUMAS PESSOAS QUE ME FORAM MUITO CARAS... MEU PAI ENTÃO, NEM SE FALA... MAS SENTÍ A FALTA DE UMA PESSOA QUE POR NÃO VE-LO A MAIS DE 20 ANOS, ACABEI POR ESQUECER O SEU NOME INCLUSIVE!!! É GENTE... HAVIA ESQUECIDO O SEU NOME!!! COMETO ESSA FALHA AS VEZES!!! MAS MESMO ASSIM, EU CONTINUEI COM A SENSAÇÃO DE PERDA E CONTINUEI ME LEMBRANDO DELE, DE SEU ROSTO, SEU SORRISO, SUA SIMPATIA... 
     ELE FOI UMA PESSOA MUITO ESPECIAL, MUITO BACANA... SABER QUE ELE ESTAVA DOENTE, PARA MIM FOI UM DURO GOLPE NA ÉPOCA... E PIOR AINDA FOI SABER QUE LOGO DEPOIS DE TENTAR ME VISITAR SEM SUCESSO, ELE SE FOI... HÁ QUASE VINTE ANOS ATRÁS EU PASSEI POR UM MOMENTO DE RECLUSÃO RELIGIOSA DELICADA E NEM ASSIM, AO SABER DE SUA PASSAGEM, EU PUDE CHORAR A SUA FALTA NAQUELE MOMENTO. 
     E COM TUDO ISTO NO PENSAMENTO, PASSEI TODO O DIA SEM CONSEGUIR ME LEMBRAR DE SEU NOME!! NOSSA!! COMO PUDE ESQUECER SEU NOME?! ACABEI INDO PARA A CASA DA MINHA MÃE RESOLVER UMAS COISINHAS PRA ELA E APROVEITEI PARA ASSISTIR A UM FILME QUE HAVIAM ME RECOMENDADO!! TOCANTE!! COM TUDO A VER SOBRE O QUE SE PASSOU NAQUELE TEMPO... E TRISTE POR NÃO CONSEGUIR AINDA ASSIM, ME LEMBRAR DE SEU NOME, FUI DORMIR... PEGUEI NO SONO LOGO, UM SONO BOM E REVIGORANTE... NÃO ME LEVANTEI EM NENHUM MOMENTO DURANTE A NOITE... PAZ, PAZ... 
     AGORA PELA MANHÃ, AO ACORDAR BEM CEDO, EU O VÍ, EM PÉ, PRÓXIMO A MIM, SORRINDO... E INSTANTANEAMENTE A PALAVRA SURGIU EM MINHA MENTE: ADEMAR!! FIQUEI TÃO FELIZ!!! EU ASSIM ME LEMBREI!! E ENTÃO ELE SORRIU PRA MIM, AQUELE MESMO SORRISO DOURADO E GENTIL, ACENOU UM ADEUS E SE FOI... 
     É UMA VERDADEIRA BENÇÃO DE DEUS A PRESENÇA DE ALGUMAS PESSOAS EM NOSSAS VIDAS... DESEJO A VOCÊ MEU PAI, A TODOS OS AMIGOS QUE SE FORAM ENTRE ELES O SAUDOSO ADEMAR, A ALGUNS PARENTES QUE TAMBÉM FORAM MARAVILHOSOS UM ENORME E SAUDOSO ABRAÇO... VOCÊS FORAM MARAVILHOSOS!!! UM DIA A GENTE SE ESBARRA POR AÍ... ASSIM ESPERO... ATÉ BREVE!! SÓ COLHENDO O QUE PLANTEI.... 

Charles Mesquita

quarta-feira, 15 de julho de 2015

SONHOS - PARTE 1: GAINAN



         GAINAN
     E no meio da noite, envolto em um sono tranquilo, eis que me encontrei em um iluminado dia cinza, nublado... De repente me encontro envolto em uma bruma tênue, por entre árvores de muitos tons alaranjados e vermelhos... Ao me tocar, sinto que visto algo bem grosso, algodão cru, de um lilás inebriante. Faz frio. Por baixo dos cachos ruivos, sinto minha orelha anestesiada e fria...
     A beleza da natureza ao redor me paralisa... Ouço o som da água bem próximo... Um riacho... No chão, um imenso tapete de musgos e folhas coloridas estala sob meus pés e muitas, muitas árvores frondosas cirandeiam a meu redor. Acredito que, devido ao clima, silentes e semi-hibernas, apenas me observam de soslaio.
     Estou diferente, num ambiente sem espelhos, sei que estou diferente. A pele muito branca, mãos pequenas enregeladas. Longos cachos vermelhos, às vezes cobrindo o meu rosto, no pescoço, um cordão, uma pedra, uma runa... Nos pés, calço algo como couro, couro de gamo... No corpo visto uma espécie de manta grossa fazendo às vezes de um vestido caindo até o meio das pernas.
     No ar, orvalho da manhã, almíscar, sândalo, cheiro de mato... Energizante... No céu, uma enorme lua que se despede diante da claridade cinza da manhã que surge... Toco o meu rosto febril diante da experiência de vislumbrar esta cena de forma tão nítida... Tão real!! Bem próximo, na margem do riacho, ainda uma fogueira emana apenas o calor em meio às cinzas... Noto junto a mim um pequeno balaio... Amoras, uvas, pão, queijo e um recipiente com vinho... Sinto que é hora de voltar, preciso ir... O que quer que tenha acontecido aqui, já acabou...
     Com o balaio nas mãos, resolvo então voltar... Voltar?... Para onde? Esta certeza vem apenas em meu coração pulsante... É... Estou voltando... Após alguns passos, páro e olho só mais uma vez para aquele lugar... Preciso gravar isto em minha mente... Ao me virar, constato que a bruma, antes espessa, se dissipou um pouco e assim pude vislumbrar bem no meio de tudo uma grande pedra angular com o mesmo símbolo entalhado na pedra que trago em meu cordão e junto a ela uma espécie de mesa também em pedra... Sob ela muitas flores, leite, mel e frutas... Uma emoção estranha, como se fosse uma bolha invisível cresce dentro de mim e explode em meu rosto na forma de um sorriso...
     Retomo meu caminho com a certeza inegável de que um dia tenha dançado nua, sob a luz do luar, após deitar leite e mel em agradecimento a Grande Mãe... Ouço sob a minha cabeça um ribombar surdo e meus pulmões se enchem com o cheiro da chuva próxima... Ponho-me a caminhar... Estou quase lá... Ah! O meu nome?! O meu nome é Gainan!!
     De repente, acordei... Sereno... Calmo... Respiração tranquila... E a nítida sensação de alma lavada... Lá fora, chove...

Charles Mesquita.


terça-feira, 14 de julho de 2015

PRECONCEITO X AMOR

     A maior mágoa que o preconceito me causa é quando as pessoas acham que o sexo vem sempre em primeiro lugar na questão de meus relacionamentos... Se me aproximo de alguém, e se esse alguém for homem ou do sexo masculino, é por que a minha intenção primordial é fazer sexo e não conhecer a pessoa... Em muitas das vezes, tudo o que eu queria era apenas fazer uma pergunta, nada mais...
     Sempre me senti muito comedido em comentar o que gosto e como gosto com as pessoas... Tive que aprender a guardar tudo pra mim... E ainda acontece da pessoa te descobrir frágil e aí se sentir livre para fazer as mais bizarras perguntas... Sem nenhum cuidado, se vai te magoar ou não, se é invasivo ou não, se é verdadeiro ou não, se sou culpado ou não... Sinceramente, existem coisas que guardamos só pra nós e mais ninguém...
     Cresci desejando ter uma família, viver numa família, conversar abertamente sobre tudo de forma corajosa e clara, quebrando tabus e dogmas que mais tarde nos pouparia de muitos sofrimentos... Uau! E como desejei! Se descobrir medroso em relação à vida é horrível, te torna fraco, muito fraco... Você deseja ser realmente diferente, você deseja ser alguém totalmente diferente do que você é... Você almeja ser aceito, de todas as formas, por tudo e por todos... E logo logo, você não passa de um fantoche da vida, fazendo as pessoas sorrirem, pois assim é mais fácil ser aceito, para logo depois e as escondidas chorar por atos involuntários e sem personalidade...
     Como somos estúpidos às vezes em não sermos verdadeiros nem a nós mesmos! Infantis, imaturos, cruéis... Comenta-se muito hoje em dia em violência contra as pessoas... Violência social, racial, de classes, sexual... Mas existe a violência que cometemos também contra nós mesmos, por aceitar, por permitir a exclusão de tudo o que somos e poderíamos ter sido... Que pena!
     É tão bom sermos donos de nossas vozes, nossos pensamentos, nossos desejos, nossos sonhos... Ser dono de nossa felicidade... Passar pela vida como passamos, sem agredir alguém a ponto de eximir o que de melhor essa pessoa tenha dentro de si... Isso sim é maravilhoso...
     As atuais transformações estão acontecendo e vão continuar... Nada que se faça irá mudar esse processo... É do Homem procurar evoluir e se encontrar no fim de uma jornada realizada... No início foi muito difícil pra mi caminhar, mas olhando tudo de uma forma bem realista, me sinto gratificado em ver que muitas pessoas querem o melhor pra si e também para outras pessoas... Querem ser livre, amar e serem amadas de forma tão natural como o ato de respirar.

     A lei natural das coisas vai prevalecer... O que é melhor para muitos vai ficar, a maioria vai vencer e sinto que pelo bem.

Charles Mesquita.


A ARTE DE ESCREVER


     "Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes.
     Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota.
     Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer."

Graciliano Ramos